Na coluna Investindo no Futuro dessa quinzena, Vinicius Panizza explica esse viés comportamental e dá dicas de como contorná-lo.
Desconto hiperbólico.
Esse nome nada mais significa do que preferir recompensas menores no presente em vez de ter que esperar por algo maior no futuro.
E para te trazer um exemplo e mostrar o quanto isso é verdadeiro, vou contar a história do Teste do Marshmallow.
Foi feito um estudo em 1970, na Escola Bing Nursery da Universidade de Stanford, pelo psicólogo Walter Mischel e sua equipe. Nesse teste, crianças entre quatro e seis anos eram conduzidas a uma sala onde recebiam um doce (normalmente um marshmallow).
Os pesquisadores, então, diziam a elas que iriam se afastar da sala por 15 minutos. Caso as crianças não comessem o marshmallow, ganhariam um segundo doce quando do retorno do pesquisador. Se a decisão fosse comer o doce, bastava tocar uma sineta que havia na mesa para que o pesquisador retornasse à sala para liberar a criança.
Um teste bem simples, porém, com algumas lições valiosas sobre o comportamento humano. Uma dessas lições aprendidas foi que, para algumas crianças, valia mais comer agora aquele marshmallow do que ficar sozinho numa sala para ter uma recompensa maior. Mas também houve crianças que esperaram os longos 15 minutos para ter a recompensa em dobro.
Mas as pesquisas não pararam por aí. Os pesquisadores resolveram ampliar seus estudos e acompanharam essas crianças por 40 anos. As crianças que esperaram os intermináveis 15 minutos tiveram melhor desempenho escolar, conquistaram melhores empregos e foram mais saudáveis e mais felizes quando comparadas com o grupo que não conseguiu esperar.
O viés comportamental explicado
Esse padrão comportamental entre preferir benefícios imediatos em vez de esperar o futuro pode ser compreendido através da interação de duas áreas distintas do cérebro humano: um sistema rápido e intuitivo e um sistema lento e racional. Essa visão dual do cérebro é fundamentada em estudos de psicologia e neurociência, como discutido por Daniel Kahneman (1934 – 2024) em seu livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar.”
O sistema rápido é responsável por processos automáticos e intuitivos, sendo ágil nas respostas. Esse sistema nos leva a tomar decisões impulsivas, buscando a satisfação imediata de nossos desejos.
Já o sistema devagar é mais ponderado e controlado, e está localizado no córtex pré-frontal, região do cérebro associada ao pensamento racional, planejamento e tomada de decisões conscientes. Esse sistema exige maior esforço mental e tempo para processar informações, considerar as consequências futuras e avaliar diferentes opções antes de chegar a uma decisão.
Mas o que tudo isso tem a ver com as finanças e os investimentos?
O nosso sistema rápido traz algumas consequências para a nossa vida financeira, tais como:
- Gastar por impulso: quem nunca viu uma promoção e ficou tentado a comprar um certo bem? Quando gastamos por impulso, geralmente desperdiçamos o nosso dinheiro em coisas momentâneas e de que não precisamos. Embora todos nós saibamos que economizar dinheiro para o futuro seja algo importantíssimo no planejamento financeiro, o benefício da recompensa no presente é sempre mais tentador, pois achamos que pagar um preço mais baixo, por exemplo, pode nos dar aquela sensação de vantagem: mas nem sempre é assim. Pagar um preço baixo hoje pode custar caro no futuro.
- Poupar menos do que se deve para a aposentadoria: percebo que todos sabem da importância de poupar para a aposentadoria, porém, o que te dá mais prazer? Poupar mensalmente 12% de sua renda bruta tributável anual em planos PGBL para ter uma aposentadoria tranquila, ou gastar esse dinheiro para suprir algumas vontades do presente? E aí, quando uma certa idade chega, fica difícil de iniciar um planejamento financeiro para a aposentadoria, pois dois aliados do planejamento financeiro foram perdidos: o tempo e o efeito dos juros compostos.
Esses dois exemplos acima mostram bem como o desconto hiperbólico pode nos fazer preferir uma gratificação imediata em detrimento das recompensas futuras.
E agora vem o remédio: como evitar essa briga com o nosso cérebro?
- Tenha um orçamento mensal para te ajudar a tomar decisões financeiras.
- Olhe de perto as despesas e tente cortar gastos desnecessários e evitar aqueles que não sejam essenciais.
- Invista logo que receber sua renda mensal, pois assim você evita o famoso “se sobrar eu invisto”, que já abordei aqui na coluna.
Pense nisso para seu orçamento, e você poderá sentir a diferença.
Um abraço e até o próximo artigo.
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