2024: o ano das surpresas na economia e no futebol
Na coluna Crônicas do Professor deste mês, o especialista Martin Iglesias fala sobre a imprevisibilidade do mercado, traçando um interessante paralelo.
Ah, 2024, um ano que começou com expectativas alinhadas, metas traçadas e, aparentemente, um roteiro previsível. No entanto, como todo bom enredo, a realidade decidiu surpreender. Economistas e analistas de mercado passaram o réveillon confiantes em suas projeções: dólar na casa dos R$ 5, Selic descendo a ladeira em direção a 8,5% e inflação dentro da banda da meta, comportada e, quem sabe, até decrescente. Parecia que o Brasil finalmente entraria no compasso harmonioso da orquestra econômica.
Mas o script mudou. Com o passar dos meses, a realidade foi nos surpreendendo. A inflação acelerou, rompendo a banda da meta e acenando para patamares ainda mais elevados em 2025. A Selic, que ensaiava uma queda elegante, deu meia-volta e se projetou para 13,50% ou mais, em uma tentativa de domar o dragão inflacionário. E o dólar? Bem, enquanto todos esperavam algo na casa dos R$ 5, ele se acomodou com conforto próximo a R$ 6.
A explicação para esse enredo inusitado não exige um detetive financeiro: dinâmica fiscal, crescimento econômico acima do PIB potencial e riscos cambiais que aceleraram a inflação. Um pacote completo para reescrever as previsões.
E aqui está o ponto interessante: 2024 não surpreendeu apenas na economia. No futebol, o Botafogo resolveu ser o protagonista de uma das maiores viradas da história. Depois do desfecho inacreditável de 2023, quando perdeu um título quase ganho, o clube renasceu. Não só conquistou o Campeonato Brasileiro como também ergueu a Libertadores, encerrando o ano como o time mais celebrado do continente.
Agora, se o Botafogo brilhou, outras surpresas também chamaram atenção. O Corinthians, time ameaçado pelo rebaixamento até a metade do segundo turno, deu uma arrancada espetacular e terminou o ano com uma vaga na Pré-Libertadores. Quem diria?
Fazendo o paralelo, tanto a economia quanto o futebol em 2024 ensinaram que confiança demais nas projeções pode ser perigosa. Assim como analistas ignoraram a força dos ventos fiscais e cambiais, muitos torcedores subestimaram a capacidade de times de se reinventarem. Se a inflação foi o gol contra da política fiscal, o dólar na casa dos R$ 6 foi o atacante adversário que pegou a defesa desprevenida. Já o Botafogo, com sua resiliência e brilho inesperado, foi a empresa que, no meio do caos, apresentou uma qualidade inegável e virou o jogo.
A moral da história? A incerteza é a regra do jogo, seja no mercado ou no campo. E enquanto há quem se desespere com as surpresas, outros aproveitam a oportunidade de aprender (e, quem sabe, comemorar um título ou ajustar a carteira de investimentos). Afinal, se 2024 nos ensinou algo, é que previsões são apenas isso: previsões. O show da realidade sempre reserva seu próprio espetáculo.
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